ATA DA VIGÉSIMA OITAVA SESSÃO ORDINÁRIA DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA QUINTA LEGISLATURA, EM 07-4-2011.

 


Aos sete dias do mês de abril do ano de dois mil e onze, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quatorze horas e quinze minutos, foi realizada a segunda chamada, respondida pelos vereadores Airto Ferronato, Bernardino Vendruscolo, Carlos Todeschini, Dr. Raul Torelly, Elói Guimarães, Fernanda Melchionna, João Antonio Dib, Maria Celeste, Mario Fraga, Mauro Pinheiro, Nilo Santos, Paulinho Rubem Berta, Professor Garcia, Sofia Cavedon, Tarciso Flecha Negra e Toni Proença. Constatada a existência de quórum, a senhora Presidenta declarou abertos os trabalhos. Ainda, durante a Sessão, compareceram os vereadores Alceu Brasinha, Aldacir José Oliboni, Dr. Thiago Duarte, Elias Vidal, Engenheiro Comassetto, Haroldo de Souza, Idenir Cecchim, João Carlos Nedel, Luciano Marcantônio, Marcello Chiodo, Mario Manfro, Mauro Zacher, Nelcir Tessaro, Pedro Ruas, Sebastião Melo e Waldir Canal. À MESA, foi encaminhado, pelo vereador Aldacir José Oliboni, o Projeto de Lei do Legislativo nº 015/11 (Processo nº 0694/11). Do EXPEDIENTE, constaram os Comunicados nos 290854, 290855, 290856, 290857, 290858, 290859, 290860, 290861, 290862, 290863, 290864, 290865 e 290866/11, do senhor Daniel Silva Balaban, Presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE. Após, foi apregoado o Memorando nº 011/11, de autoria do vereador Aldacir José Oliboni, deferido pela senhora Presidenta, solicitando autorização para representar externamente este Legislativo, no dia de hoje, em solenidade relativa à visita do senhor Fernando Haddad, Ministro da Educação, ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, às dezesseis horas e trinta minutos, no Município de Canoas – RS. Em prosseguimento, por solicitação da vereadora Sofia Cavedon, foi realizado um minuto de silêncio em homenagem póstuma às crianças mortas no dia de hoje na Escola Municipal Tasso da Silveira, do Município do Rio de Janeiro – RJ. A seguir, a senhora Presidenta informou que o Conselho Municipal do Idoso não faria uso da Tribuna Popular agendada para a presente Sessão. Em continuidade, foi iniciado o período de COMUNICAÇÕES, hoje destinado, nos termos do artigo 180, § 4º, do Regimento, a tratar do tema “Direito à cidade, direito de todos”. Compuseram a Mesa a vereadora Sofia Cavedon e o vereador Toni Proença, respectivamente Presidenta e Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, e as senhoras Vanêsca Buzelato Prestes e Débora Balzan Fleck, respectivamente Diretora da Fundação Escola Superior de Direito Municipal – ESDM – e Diretora da Escola do Legislativo Julieta Battistioli. Após, a senhora Presidenta concedeu a palavra, nos termos do artigo 180, § 4º, inciso I, à senhora Vanêsca Buzelato Prestes, que se pronunciou sobre o tema em debate. Durante o pronunciamento da senhora Vanêsca Buzelato Prestes, foi realizada apresentação de audiovisual referente ao tema abordado por Sua Senhoria. Em COMUNICAÇÕES, nos termos do artigo 180, § 4º, inciso III, do Regimento, pronunciaram-se os vereadores Engenheiro Comassetto, João Antonio Dib, Carlos Todeschini, Elói Guimarães, Pedro Ruas, Dr. Thiago Duarte e Dr. Raul Torelly. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, pronunciou-se o vereador Airto Ferronato. A seguir, o senhor Presidente concedeu a palavra, para considerações finais sobre o tema em debate, à senhora senhora Vanêsca Buzelato Prestes. Às dezesseis horas e oito minutos, os trabalhos foram regimentalmente suspensos, sendo retomados às dezesseis horas e nove minutos, constatada a existência de quórum. Após, constatada a existência de quórum deliberativo, foi aprovado Requerimento verbal formulado pelo vereador Toni Proença, solicitando alteração na ordem dos trabalhos da presente Sessão. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, pronunciaram-se os vereadores João Antonio Dib e Carlos Todeschini, este pela oposição. Em PAUTA, Discussão Preliminar, estiveram: em 1ª Sessão, os Projetos de Lei do Legislativo nos 022 e 033/11; em 2ª Sessão, os Projetos de Lei do Legislativo nos 018, 028 e 030/11. Durante os trabalhos, foi registrada a presença, neste Plenário, do vereador Paulo Renato Mattos Gomes, Presidente da Câmara Municipal de Rio Grande – RS. Às dezesseis horas e vinte e três minutos, constatada a inexistência de quórum, em verificação solicitada pelo vereador Haroldo de Souza, o senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os senhores vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pela vereadora Sofia Cavedon e pelo vereador Toni Proença e secretariados pelo vereador Toni Proença. Do que foi lavrada a presente Ata, que, após distribuída e aprovada, será assinada pelo senhor 1º Secretário e pela senhora Presidenta.

 

 


A SRA. PRESIDENTE (Sofia Cavedon): Nós hoje estamos vivendo um momento de comoção no Brasil, de comoção para a Educação, um momento de indignação com o assassinato de onze crianças numa escola do Rio do Janeiro. A nossa incompreensão e a inconformidade com tamanha brutalidade foram manifestadas pela Presidente Dilma, que declarou luto oficial por três dias. O acontecido traz-nos uma preocupação sobremaneira com as nossas escolas quanto à segurança e com a enorme responsabilidade que tem a Direção de uma escola e os professores, com tão poucas condições para receber os alunos com segurança, às vezes sem guarda, sem portaria, para poder fazer uma revista, uma triagem. A brutalidade vivida hoje expõe um país ainda profundamente violento, um país que não consegue proteger a sua infância; expõe a fragilidade das escolas brasileiras e deixa-nos muito conscientes, cientes, ciosos de que onde nós trabalhos com mil, com quinhentos, com quatrocentos, com três mil alunos nós não podemos não ter todas as condições para garantir a segurança e a qualidade do atendimento a essas crianças. O Brasil está vivendo um momento especial de desenvolvimento, mas não pode esquecer que é um país que tem uma cultura de violência, tem uma brutal herança em função da desigualdade, da pobreza, do uso da arma, do uso da violência, do crime, e nós ainda estamos com as nossas crianças submetidas a isso.

O Ministro Fernando Haddad, hoje pela manhã, aqui no Rio Grande do Sul, assinando um convênio com o Governo do Estado para a formação de professores, exatamente para a qualificação das nossas escolas, registrou, em um minuto de silêncio, a indignação e a comoção da Educação brasileira. E eu solicito - o Ver. Idenir Cecchim ia solicitar - um minuto silêncio e agradeço ao Vereador por me permitir fazer essa solicitação, porque é um dia muito triste para a Educação, muito triste para todos os brasileiros, mas para a Educação especialmente. Então, eu solicito que façamos um minuto de silêncio.

 

(Faz-se um minuto de silêncio.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Sofia Cavedon): Conforme agenda, teríamos a Tribuna Popular, que ficou transferida. Receberíamos o Comui - Conselho Municipal do Idoso -, que falaria sobre a III Conferência Municipal do Idoso.

Passamos às

 

COMUNICAÇÕES

 

Hoje este período destina-se a tratar do tema “Direito à Cidade, Direito de Todos”. Nós estamos iniciando abril, e a ideia é de que a Câmara se debruce mais sobre o tema do direito à Cidade. Nós teremos três grandes Audiências Públicas em abril: uma acontecerá hoje à noite, será sobre a circulação de bicicletas na Cidade; na quinta-feira próxima, sobre o Código Florestal Brasileiro, as mudanças do Código que implicam em Porto Alegre e implicam no nosso planeta e, na última quinta-feira do mês, dia 28, haverá uma grande Audiência Pública sobre o Plano Diretor de Acessibilidade, que também trata do direito à Cidade. Estamos começando a planejar a Semana do Meio Ambiente, que será em junho; portanto, nestes três meses, vamos trabalhar com os temas que envolvem o direito à Cidade.

Consideramos muito oportuna a visita da Drª Vanêsca Buzelato Prestes, Diretora da Escola Superior de Direito Municipal, que nos trouxe um convite para a participação num curso que está promovendo a Escola Superior. Fizemos o convite à Drª Vanêsca, doutorada nessa área da legislação dos direitos que normatizam a organização da cidade; então, é com ela que nós contamos nesta tarde. Nós, Vereadores e Vereadoras, tratamos muitas vezes de diferentes aspectos desse tema.

Convidamos para compor a Mesa a Drª Vanêsca Buzelato Prestes e a nossa Diretora da Escola do Legislativo, a Débora Balzan Fleck, que trabalhou na divulgação e na organização desta participação.

A Srª Vanêsca Buzelato Prestes, Diretora da Escola Superior de Direito Municipal, está com a palavra.

 

A SRA. VANÊSCA BUZELATO PRESTES: Boa-tarde a todos. Em primeiro lugar, eu queria agradecer imensamente o convite da Verª Sofia, Presidente desta Casa. Na verdade, há dez dias estive aqui entregando um convite para o curso de Especialização em Direito Municipal, que trata exatamente desses temas relacionados ao cotidiano dos senhores, e acabamos combinando este momento, para abordar o tema “Direito à Cidade, Cidade de Todos”. Evidentemente - ao saudá-los, eu queria salientar isto -, o que eu vou colocar aos senhores está dentro do âmbito jurídico, que é o âmbito com o qual eu posso trabalhar. Vejo aqui pessoas que conheço já há muito tempo nessa trajetória toda, pessoas que têm um enorme acúmulo para falar das questões da Cidade. Então, a espécie de contribuição que posso dar aqui, neste momento, é no sentido de trabalhar a dimensão do conteúdo jurídico da Cidade que estamos tratando hoje.

Para falar disso, precisamos pensar um pouquinho se existe diferença entre as cidades que vivenciamos e o nosso momento atual, para chegar ao desafio jurídico que temos na denominada contemporaneidade, que é o momento atual. Fica claro, quando a gente se debruça sobre um método para estudar essas questões, que as cidades foram se modificando ao longo do tempo e que essa modificação decorre do conceito histórico do momento.

 

(Procede-se à apresentação em PowerPoint.)

 

A SRA. VANÊSCA BUZELATO PRESTES: Aqui eu apresento uma rápida digressão histórica, cujo objetivo não é dar uma aula, enfim, mas só situar sobre o que estamos trabalhando. Temos, na história da humanidade, várias formas de comportamento das cidades. Nas cidades antigas, tínhamos algo como uma associação de tribos. As tribos determinavam o comportamento dos cidadãos. Não era possível casar entre tribos distintas. A moeda era o escambo, funcionava dentro da própria tribo. Então, naquele momento histórico, não podia se falar, por exemplo, em direitos dos cidadãos, não havia cidadãos.

No período medieval, as cidades tiveram uma intensa modificação, porque os reis foram morar em determinados locais. A Europa representa muito isso. Com o fato de receber os reinados, tivemos todo um embelezamento das cidades, toda a grandiosidade das obras, que foram preservadas, toda uma característica muito forte das cidades. Nesse período do medievo, as cidades eram denominadas cidades-estado. Elas tinham uma força política e econômica muito significativa - tínhamos Constantinopla, Veneza -, quer dizer, eram focos da política econômica, nós não tínhamos o conceito de cidade-nação. As cidades que recebiam os reis do período tinham toda uma caracterização relevantíssima, que dava, senão o conceito jurídico, as regras - hoje o conceito jurídico é mais amplo - de convivência desse próprio período. Os filmes demonstram isso.

Entre os séculos XV e XVIII, tivemos a introdução do modelo capitalismo mercantilista. Então, a questão de propriedade toma um outro relevo, há uma extensão dos limites das cidades - temos aqui Vereadores urbanistas que trabalham esse conteúdo em outras áreas, em outros âmbitos -, percebe-se que há uma perda do controle daquelas regras nesse período. Nós temos, no período pós-medieval, aumento de recursos... Quer dizer, uma série de questões que vão substituindo e vão mudando os modelos de cidade, porque também modifica a própria economia.

No período do pós-medievo, que é o período denominado liberal, há o que os urbanistas chamam de perda do controle das regras da cidade. À medida que as cidades saem dos muros, ao mesmo tempo em que isso se dá de uma forma positiva por alguns aspectos, no aspecto urbanístico e do controle da terra, perde-se a possibilidade de dizer onde podem e onde não podem determinados comportamentos, o que era uma característica das regras dentro das próprias cidades. Nesse período, é apontado que as funções urbanas deixam de ser significativas, que é o que vai tentar ser recuperado no período posterior, que é o início da modernidade.

Na modernidade, o que acontece? É claro que a modernidade não se dá ao mesmo tempo em todo o espaço, em todo lugar, mas aqui o que é caracterizado por modernidade é o período: nós começamos a vivenciar o aço, o telefone, a energia - toda essa revolução de costumes que vai fazer com que o espaço urbano seja um espaço prestigiado dentro do universo. Inicia o êxodo rural. As pessoas vêm para o espaço urbano em busca dos confortos que a modernidade nos trouxe, e hoje nós estamos trabalhando em como resolver os problemas decorrentes da modernidade. Como característica nas cidades, nós tivemos a funcionalização, a tentativa de resgate de regras, os planos. No Brasil, nós temos as cidades planejadas: Brasília, Goiânia... Tivemos, também, todos os problemas decorrentes deste planejamento, que não englobou todo mundo. E esse é um dos aspectos que a gente tem que ter claro, e é por isso que hoje se discute cidade para todos, porque o planejamento da modernidade não previu todos os espaços, ou previu espaços insuficientes para as necessidades que nós temos. A nossa maior cidade planejada - Brasília - não previu os espaços em que os construtores de Brasília iam residir. Quando nós discutimos aqui em Porto Alegre todos os problemas decorrentes dos processos de falta de habitação e tal, temos, também, que perceber que isso decorre de um modelo que foi adotado ao longo de muito tempo no nosso País e que refletia o próprio modelo de planejamento desse período.

Temos aqui os princípios arquitetônicos - não vou cansá-los em explorar este conteúdo -, mas, certamente, os senhores, examinando isso, vão dar-se conta muito do que inspirou os nossos Planos Diretores - os Planos Diretores físicos, territoriais, colocando a questão, por exemplo, do domínio da paisagem sobre a cidade construída. O verde passa a constituir um espaço importante, mesmo que esses verdes tenham sido feitos em cima de aterros. Nas grandes cidades brasileiras, a incorporação de espaços de vias públicas e os grandes parques se dão com aterros no mar, com aterros nos cursos d’água, inclusive aqui em Porto Alegre, o espaço em que estamos.

Então, este é um dos legados da modernidade; não é crítica, é constatação, porque, naquele período, nós não tínhamos o que hoje nós estamos enfrentando com relação aos aspectos decorrentes do aquecimento global, das preocupações da contemporaneidade com escassez de recursos naturais, que permeiam o nosso cotidiano, como as tempestades, que estão voltando, enfim, a pauta era distinta, e a técnica dominava todo um conteúdo. Também é desse período a cidade industrial, os modelos de planejamento, a cidade-jardim, que é um modelo de planejamento também desse período da modernidade, refletido hoje pelos condomínios fechados. Enfim, é uma série de modelos que refletem esse tipo de conteúdo.

Uma das características da modernidade que eu gostaria de enfatizar aqui foi o estabelecimento dessa diferença entre o urbano e o rural: a cidade ser urbano, o moderno ser o urbano, o arcaico ser o rural. Até então cidade era dimensão do território - na rapidíssima digressão histórica que nós fizemos aqui, a gente se dá conta disso -, nós tínhamos cidades com dimensão de território: as cidades-estados, as cidades do medievo, as tribos no início; nós viemos no histórico da humanidade com essa característica. No período da modernidade, em função de o processo de planejamento ficar restrito a uma parte do território, nós acabamos adotando o conceito de cidade vinculado à área urbana. Isso nos causou uma série de problemas, dentre os quais não planejar o território todo.

Eu sou Procuradora há vinte anos neste Município, não diretamente aqui em Porto Alegre, mas auxiliando Prefeitos do Interior, por exemplo, num determinado período em que tiveram, nas suas contas, um apontamento do Tribunal de Contas de que não poderiam gastar recursos na área rural, porque o recurso do Município era oriundo do IPTU, enfim, desse tipo de recurso. Por outro lado, acompanhei vários momentos de necessidades, de tentativas de transformar em área urbana, independente da vocação, do território, para ter serviços públicos. Então essa dicotomia é uma das questões que hoje nós estamos recuperando com a Constituição de 1988 e com o Estatuto da Cidade, que voltaram a tratar as cidades na dimensão de território. Nesse particular, o nosso Plano Diretor - o Plano Diretor de 2000, antes do Estatuto da Cidade, que deixou isso de forma expressa - já tratava a dimensão de território, justamente porque hoje, para falar de sustentabilidade das cidades, não é mais possível trabalhar só o espaço urbano. E os senhores, ao longo da trajetória desta Casa, dão conta disso, à medida que trazem uma série de leis que trabalham essa dimensão de território.

Então, essa funcionalização ficou caracterizada com o período da modernidade por uma série de situações, dentre as quais, as destacadas aqui. Mas os urbanistas europeus - que é onde começa tudo isso -, já no final do Século XIV, apontavam o enorme problema trazido por essa espécie de segregação, o que nós conseguimos recuperar só no início do Século XXI, com a introdução dessa legislação.

Então, o que nós podemos dizer que é a nossa Cidade na contemporaneidade? O que é essa contemporaneidade? Contemporaneidade - o momento que estamos vivendo - é, do ponto de vista jurídico, um espaço que tem e que se pauta por uma Constituição. E a constituição de um Estado Democrático... A Constituição Brasileira integra o ciclo das constituições democráticas do pós-guerra. As constituições democráticas do pós-guerra têm como característica apontar direitos fundamentais, e esses direitos fundamentais são direitos que têm, na sua essência: primeiro, a possibilidade de judicialização dos seus resultados; segundo, a existência de cláusulas contramajoritárias para proteger esse núcleo de direitos que estão aí colocados. E a Cidade está dentro desse conteúdo.

Nós temos, dentro da nossa Constituição, um capítulo específico da Política Urbana - artigos 182 e 183, combinado com o direito à moradia, como o meio ambiente; do Direito Social, art. 6º; do Meio Ambiente equilibrado, art.º 225, que não se restringe ao ambiente natural, mas à dimensão de todo o ecossistema, inclusive com a presença do homem, e mais a questão da gestão democrática, que se dá muito no âmbito concretizado do espaço da cidade. Então, esses quatro eixos estruturantes dão conta hoje do conteúdo do que nós denominamos direito fundamental à cidade. E isso parece muito teórico, mas ele se reflete nos processos de aprovação do Município, nas ações judiciais que nós vamos defender na Procuradoria, nos projetos de lei que os senhores trabalham. Por exemplo, essas cláusulas contramajoritárias, de defesa da Cidade como expressão do direito à diferença, vão aparecer, por exemplo, nas normas de acessibilidade. Por que se faz isso? Porque, se a cidade do Estado Democrático de Direito é uma cidade que tem que ser inclusiva, uma cidade plural, ela tem que proteger de algum modo, com algum regramento as diferenças para possibilitar a inclusão. É nessa linha que vêm todas essas leis, e aqui os senhores têm feito um enorme debate, que depois cabe a nós, do Executivo, aplicarmos e, na Procuradoria, sustentarmos. Não raro nós nos deparamos com esses conceitos, quando vamos discutir, por exemplo - e foi muito forte uma parceria importante aqui com esta Casa -, com relação às cotas nos editais de concurso público; tem a mesma característica. Então, por que hoje se faz isso? Em função da característica do tipo de cidade que nós temos.

Além disso, nós temos lá a cidade como espaço de cidadania. Se há um espaço de cidadania, também precisamos ter esses espaços plurais, que não são só físicos; são espaços de expressão desse conteúdo de cidadania. Sempre brinco, cheguei a usar a alegoria de um filme francês - Chocolate -, em que o Prefeito não permitia que forasteiros chegassem à cidade, porque ele gostava de manter o completo controle da sua cidade. O filme é com a Juliette Binoche, é um filme que tem várias decorrências, poderia ter várias análises. Agora, do ponto de vista jurídico, o que a gente tem que pensar é: será que esse tipo de postura que existia lá é possível? Claro que esse exemplo é absurdo, e todos nós responderíamos que não. Mas até bem pouco tempo nós tínhamos Prefeitos próximos aqui que devolviam as pessoas à sua cidade de origem. Será que é possível? É um debate que precisamos fazer dentro desse contexto do Estado Democrático de Direito; a cidade é um dos elementos que compõem o Estado Democrático de Direito.

Sobre a função socioambiental: eu colocava aqui aos senhores que muito das cidades se desenvolveram, foram construídas, que os Planos Diretores foram desenhados, a exemplo do Plano Diretor Pereira Passos, do Rio de Janeiro, um dos exemplos bem significativos que temos; foi um dos primeiros, relevantíssimo. Mas, hoje, será que os Planos Diretores seriam feitos dessa forma? Por quê? Porque a questão dos aterros, da quantidade de aterros que foram feitos, produziu uma série de conteúdos que hoje estamos enfrentando em função dos efeitos do aquecimento global: o mar subindo, o regime das edificações completamente alto, não tem insolação, tendo que mudar a areia na beira da praia. Há locais, no Brasil, em que o banho de mar não é mais possível devido à presença de tubarões, acabando com o polo turístico, “matando a galinha dos ovos de ouro”, como dizem na minha terra - na Serra, nós usamos muito essa terminologia. E aqui eu poderia falar do Nordeste, mas nós temos situações muito próximas nossa. Aquela ideia de fragmentação, de cada um trabalhar no seu universo, gerou um pouco dessas distorções.

Para além disso, nós temos esse conteúdo de funções sociais da cidade, que não são só aquelas funções da modernidade. Na modernidade, nós tínhamos a função recrear, a função trabalhar, a função circular e a função morar - quatro funções importantíssimas para recuperar aquele tempo perdido de controle e voltar ao embelezamento das cidades, porque, no período liberal, houve um momento de perda. Agora, para além dessas quatro funções, como é que nós vamos trabalhar hoje com cidades que não têm esse viés ambiental? Como é que nós vamos trabalhar com o conceito de função da Cidade sem discutir saneamento, infraestrutura, educação, entre outros tantos?

O art. 2º, inc. I, do Estatuto da Cidade dá-nos um conceito de cidade sustentável que amplia bastante. Mas, para além disso, as necessidades e todas as questões colocadas na Constituição fazem com que nós tenhamos uma cidade com múltiplas necessidades. E aquele planejamento físico-territorial de até então passa a ser substituído por um planejamento de gestão, que é o que os Planos Diretores, hoje, cada vez mais refletem. E, para isso, temos essa ideia de dimensão de território. A cidade não é área urbana, não é área de expansão urbana; a cidade é todo o território, sendo que, cada vez mais, estão sendo desenvolvidos instrumentos para fazer essa articulação urbano-rural, que possibilite trabalhar o conceito de sustentabilidade na sua integralidade.

Então, a Constituição de 1988, que criou todas essas possibilidades que as cidades exigiam - cidades plurais, democráticas, com o cidadão no centro -, fez com que atividades como a que eu exerço, como Procuradora de um Município do porte da nossa Cidade, tivessem que ser revisadas e revisitadas, porque questões que nós tínhamos claras, por exemplo, ajuizar uma ação demolitória sem perguntar a origem, sem ver se existe algum núcleo de direitos daquelas pessoas, hoje já não é mais possível, porque há um núcleo de direitos protegidos, o que faz com que uma série de questões sejam revisitadas. Então, essa cidade, que engloba todo o território, foi densificada, que é a linguagem que a gente usa no Direito. Ela está prevista lá na Constituição, foi densificada no Estatuto da Cidade e concretizada no âmbito dos Planos Diretores e dos projetos em espécie. E o Plano Diretor vai estabelecer a função socioambiental desse conteúdo de território, tendo sempre presente que o Estatuto da Cidade não é um estatuto que rege o ambiente construído, mas que trabalha o conteúdo do território. O ambiente construído é um dos elementos aí colocados.

A cidade no Estado Socioambiental: o que é essa cidade no Estado Socioambiental? Nós temos vários autores que trabalham esse conteúdo no Direito - não vou cansá-los -; agora, a ideia de Estado Socioambiental está calcada na ideia de Estado Constitucional Ecológico, que traz a ideia de justiça intergeracional e de direitos das futuras gerações. Isso nasce com as Constituições dos Estados Democráticos. A questão dos direitos das futuras gerações tem o mesmo patamar do direito à paz, do direito à liberdade de expressão, porque todo o legado do pós 2ª Guerra faz com que a humanidade tenha que repensar os seus fundamentos, em função de todas as agruras do nazismo. E quebrando a fragmentação, porque, se nós fôssemos pensar objetivamente do ponto de vista da preservação do patrimônio cultural, por exemplo, o nazismo foi um protetor do patrimônio cultural. Mas a ideia é justamente não trabalhar a fragmentação, porque a ideia intergeracional tem que trabalhar o seu contexto. O reflexo disso na Cidade vai ser, por exemplo, as medidas compensatórias que temos; a ideia das construções objetivamente consideradas - ter que prever a absorção de água em seu território -, enfim, é uma série de questões que os senhores aprovam aqui, justamente porque têm que trabalhar o presente para termos um futuro.

O outro ponto é a questão do “eu/nós contra o Estado” substituída pelo “nós em favor do planeta”. O Estado não é o único. Nós temos agora aquela questão da eficácia horizontal dos direitos fundamentais; os cidadãos entre si também reclamam a questão ambiental, os cidadãos entre si também aportam elementos. Esses dias eu conversava com alguns colegas, e um colega disse que o condomínio dele fez uma reclamação para um jornal X, que tem as suas atividades e trabalha próximo ao condomínio, ao lado, e que já estava instalado lá há anos, estabelecido há muito tempo; tem alvará, tem todas as condições, sempre esteve lá; e o jornal fez a proteção acústica dos apartamentos que estavam sofrendo com o ruído. Isso não é benevolência do jornal, que exerce uma atividade econômica; isso é eficácia horizontal dos direitos fundamentais, porque a questão ambiental, e não é só o ambiente natural, permeia tudo isso. Inclusive para evitar litígio, há uma composição, e nós poderíamos ver muitos outros exemplos nesse sentido.

A outra questão é a superação da dicotomia público/privado, e confesso aos senhores que isso é uma questão pela qual, na Procuradoria, há muitos anos, se tem lutado, enfatizado. O que é essa superação da dicotomia público/privado? Também o Poder Público, quando vai construir a Cidade, tem que respeitar regras. Eu não estou falando só do Poder Público municipal, mas dos Tribunais, que não preveem vias estruturadoras, falo da falta de estacionamento, da necessidade de resolver essas questões na sua essência, porque, historicamente, cada Poder Público construía os seus prédios. Não tinha essa afirmação da competência do Município em seu licenciador. À medida que outras matérias surgem, como a necessidade de proteção de incêndio, acessibilidade, alguém tem que exercer essa atribuição de licenciar, e é o Município. E é uma luta com ações judiciais. Agora, passado um tempo, já está bastante afirmado, mas é uma necessidade muito importante, porque os efeitos, na população, da falta do cumprimento dessas regras se dão de uma forma muito concreta, e os cidadãos mesmos é que são os prejudicados.

E essa expressão socioambiental é a convergência das agendas social e ambiental, fazendo essa aproximação. Por muito tempo e muitas vezes isto ainda acontece, parece que o ambiente está aqui e as pessoas lá, de forma diametralmente opostas. Mas, na verdade, essa aproximação, esse Estado Socioambiental aproxima, ele enxerga a sua universalidade, tendo várias decorrências para isso. Bom, então, esse Estado Socioambiental é a afirmação de uma constituição de Estado Social que reconhece direitos fundamentais e fornece os meios juridicionais para a sua consecução. O que significa isso? Muitas vezes, os senhores nos chamam aqui ou ficam perplexos em função das ações judiciais que, cada vez mais, têm surgido, questionando aprovações do Município, licenciamentos, obras. Isso é reflexo do Estado Socioambiental e Democrático de Direito, faz parte desse espaço de democracia. E, cada vez mais, nós temos claro que a nossa grande função é ter motivado atos administrativos, esclarecidos quais são os pontos, qual foi o processo de tomada de decisão, porque muitas vezes nós temos colisão de direitos dentro de um mesmo processo de aprovação. E há critérios jurídicos para chegar a um processo de tomada de decisão; só que esses critérios jurídicos têm que ficar expressos, claros, motivados, escritos e, sobretudo, publicizados nos respectivos processos de aprovação, para poderem ser sustentados posteriormente.

Então, esse direito à Cidade, na sua dimensão jurídica, é a abordagem socioambiental representando a fusão da denominada Agenda Verde - Agenda 21, que se inicia com a Eco 92, da qual o Brasil foi signatário, que implicou uma série de alterações na legislação infraconstitucional, inclusive nas legislações municipais - e a denominada Agenda Marrom, que é a Agenda Habitat, que começa com Istambul, em 1996; na mesma forma do Tratado Internacional Ambiental, temos o Tratado Urbanístico, que é o tratado do direito à moradia; são agendas que se aproximam muito, porque a questão da falta de infraestrutura, da escassez de áreas verdes, da necessidade de saneamento, da segurança das cidades aparecem em ambos os documentos internacionais, dos quais o Brasil é signatário.

Essa cidade no espaço socioambiental tem compromissos, e compromissos que não são só políticos. Aqui os senhores poderiam me dar aula dos compromissos políticos, mas nesses resultados nós temos decorrências e compromissos jurídicos, que é a denominada práxis constitucional, que vai trazer, no seu fio condutor, a dignidade da pessoa humana. Então, aqui também muda muito dos aspectos que a gente tem trabalhado. Eu me recordo que, logo depois da implantação acho que da segunda eleição dos Conselhos Tutelares, houve todo um movimento, com uma força-tarefa liderada por esta Casa, que fazia investigações junto com o DECA, fazia batidas nas casas que tinham prostituição infantil. Foi quando se formaram o DECA, a Delegacia da Criança, o Conselho Tutelar, enfim, todos os órgãos ativos da sociedade. E uma dessas casas ajuizou um mandado de segurança dizendo o seguinte: “Eu tenho alvará, eu cumpro todos os requisitos da lei. Então, a minha atividade é lícita, ela tem que se manter”. Na época, nós tivemos uma séria dificuldade de sustentar toda aquela ação administrativa, porque os requisitos do alvará realmente são lineares. O que respalda a atuação de tudo isso é... Na verdade, hoje nós temos um universo maior de questões a ser protegido, dentre o qual está o princípio da dignidade da pessoa humana.

O exemplo jurídico que aparece com maior ênfase vem do Direito francês, que é o denominado Caso do Anão. Lá eles tinham uma prática, que era arremesso de anões, e o Prefeito da cidade suspendeu dizendo que isso era uma prática contrária à dignidade da pessoa humana. Há uma série de discussões jurídicas: se o anão pode ou não ter isso como atividade, se ele pode doar seu corpo. Eu não vou entrar nesse universo, não é o meu papel aqui. Agora, transpondo essa discussão para a nossa realidade, nós temos uma série de outras situações em que o fio condutor é a dignidade da pessoa humana, e, muitas vezes, aquele exame concreto do alvará, da atividade em si, ele não está de acordo com a finalidade prevista. E isso nos faz, hoje, robustecer as teses para fortalecer essas ações que surgem em cumprimento, por exemplo, dessa política pública. Aqui eu poderia falar de outras questões de minorias, mas não vou me estender; o raciocínio serve para todas essas finalidades.

Temos a questão da sustentabilidade urbana ambiental como meta, que está sempre questionada. E aqui o conceito de sustentabilidade é um conceito em aberto, que se prende com uma série de conteúdos. Eu dizia para a Verª Sofia Cavedon, quando conversamos aqui na semana passada, que eu, como brasileira, cidadã porto-alegrense, e a minha vivência na Procuradoria sempre foi - hoje não - muito voltada para essa área de urbanismo e meio ambiente, me preocupo muito com os efeitos, com as questões decorrentes de o INPE ter colocado a nossa Região no País como área sujeita a ciclones extratropicais, e é uma preocupação muito concreta, é com relação à nossa polícia de edificações. Uma coisa é termos ciclones extratropicais e todas essas movimentações excepcionalmente; termos marcos significativos como, por exemplo, a grande enchente de Porto Alegre. Agora, esses pontos todos estão sendo colocados pelos cientistas como fenômenos que vão ocorrer não ciclicamente, mas de modo reiterado no meio em que estamos vivendo. Será que a nossa polícia de edificações está preparada para isso? E o nosso Código? Não será este o momento de pensarmos nessas matérias? A quantidade de vidros que permitimos? Eu já tenho visto muitas cidades revisitando os seus conceitos de edificação à luz desses conteúdos todos.

Além disso, no momento em que estamos discutindo escassez da água, estamos discutindo a necessidade de otimização energética, nós ainda seguimos permitindo aqueles “prédios inteligentes” que, num dia como hoje, extremamente agradável, não se pode abrir a janela, porque não têm janela. Os prédios públicos, em grande parte, os novos, são assim, são prédios que utilizam luz o tempo todo. O mundo está revisando os seus conceitos, vejam a ideia de ter proteção nas edificações para evitar que seja aquela geladeira no inverno e aquele calor horrendo no verão. Voltamos, inclusive, a alguns conceitos antigos, como manter um porão, ou, como a Europa está fazendo, construir telhados verdes. Quer dizer, são discussões sobre as quais nós precisamos nos debruçar nesta Cidade, se quisermos tratar os elementos da sua sustentabilidade na sua integralidade. Como estão os nossos canteiros de obras? Enfim, é uma série de questões que precisa ser trabalhada.

Eu não vou estender-me e falar sobre a questão da cidade democrática, porque os senhores sabem muito mais do que isto. A única ponderação a ser feita é que esse, hoje, é um conceito jurídico, por isso os entraves que ocorrem com relação à chegada dessas matérias no Judiciário.

Já me encaminhando para o encerramento: todo esse raciocínio que é desenvolvido está calcado no conceito jurídico de cidade, estabelecido pela nossa Constituição e colocado nestes artigos, que estão aí sintetizados. Se são possíveis conclusões preliminares nesse sentido - e aí tentando contribuir para essas reflexões que têm surgido aqui -, eu teria a colocar aos senhores que estamos num momento de releitura de vários âmbitos do Direito. Aconteceu com o Direito Civil, logo após a Constituição - releitura no sentido de constitucionalizar todas aquelas práticas jurídicas -, com o Direito Empresarial, e agora estamos fazendo isso com o próprio Direito Administrativo, com o Direito Urbanístico, e o Direito Ambiental nasce enraizado na Constituição. Nós estamos num momento em que discutimos como ter sustentabilidade, por exemplo, das compras púbicas com os critérios de licitação que nós temos; estamos num momento em que já temos orientações, por exemplo, de a merenda escolar ser adquirida dos próprios produtores do território, para absorver as compras e trabalhar essa ideia de sustentabilidade.

Então, isso mexe com o direito que nós aprendemos, com os princípios - e eu fico muito a vontade aqui, porque há um colega na tribuna -, mexe com o direito que nós aprendemos, que trabalhamos, mexe com os dogmas da nossa construção. E aí vai para o Direito Civil, para as matérias de desapropriação, etc. Então, essa releitura é permanente, inclusive da ideia do direito de construir. A jurisprudência tem auxiliado bastante nessa releitura, porque os tribunais incorporam a noção de princípios, o que a Administração Pública tem enorme dificuldade ainda de incorporar. A Administração Pública ainda é linear; e os tribunais, paulatinamente, cada vez mais - é só acessarem e vão ver -, estão anulando as licenças para construir por falta de observância de Estudos de Vizinhança, por exemplo. Recentemente, o STJ deu uma decisão com relação à proibição de retrocesso de áreas protegidas, que é o caso City Lapa, no Rio de Janeiro. Nós temos decisões muito pontuais com relação à preponderância dos Planos Diretores em determinadas matérias; prevalecendo os princípios e, muitas vezes, afastando regras específicas, o que nos mantêm muito atentos às inovações que nós temos aí.

Essa identificação, então, do direito à Cidade como uma síntese de feixes de direitos faz com que nós tenhamos que nos preparar para trabalhar esse conteúdo na sua essencialidade. O direito é um desses elementos; nós temos feito, na Procuradoria, um esforço nesse sentido e, na Escola de Direito Municipal, trazido pessoas de fora - professores, a Especialização trabalha com esse conteúdo -, justamente porque, para bem trabalhar esses conteúdos da Cidade e reforçar, inclusive, as coisas que os senhores aqui aprovam, é necessária essa revisitação dos institutos, essa colocação do direito nesse espaço público. Um dos nossos primeiros aprendizados, por exemplo, de disputa de competência municipal nasceu nesta Casa com a discussão das estações de radiobase de celular. Houve uma suspensão, inclusive, dos atos, houve todo um esforço, e hoje o Supremo reconhece aquela tese que iniciou aqui em Porto Alegre, entre outras - esta eu me recordo com mais ênfase. Agora, todas essas matérias exigem essa aproximação para afirmação dos direitos dessas cidades que nós tanto defendemos e diante do compromisso que temos. Obrigada, desculpem-me por ter me estendido. (Palmas.)

 

(Não revisado pela oradora.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Sofia Cavedon): Nós a ouviríamos por mais uma hora aqui, porque, com certeza, cada um dos conceitos, para nós e para a Cidade, tem grandes implicações.

O Ver. Engenheiro Comassetto está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. ENGENHEIRO COMASSETTO: Srª Presidente, Verª Sofia Cavedon; nossa ilustre convidada, seja sempre bem-vinda aqui. Trabalhar o direito à cidade obviamente é um renovar constante dos conceitos e de suas aplicações. Mais recentemente, o tema “cidade” vem ganhando força, pelo menos na esfera política e na estrutura republicana do Brasil. Com o advento da Constituição do Ministério das Cidades, passou-se a elaborar uma política de desenvolvimento urbano, e hoje tenho o prazer de participar como Conselheiro Nacional das Cidades no Fórum, representando os Vereadores do Brasil. Neste momento, está-se desenvolvendo um programa nacional de desenvolvimento urbano que pressupõe... (Pausa.)

 

(Aparte antirregimental do Ver. Dr. Thiago Duarte.)

 

O SR. ENGENHEIRO COMASSETTO: Não, Ver. Thiago, eu quero falar para a nossa palestrante. Só por isso.

Está-se desenvolvendo um programa de desenvolvimento urbano que pressupõe a integração das três esferas - Município, Estado e União. Isso, do meu ponto de vista e da política que está sendo desenvolvida, não pode ser feito de uma forma impositiva, mas sim em forma de conquista e de entendimento entre essas três esferas, tanto que há a disputa, que é pequena, de verbas que precisamos para poder reestruturar as cidades em todas as suas dimensões. Agora está aprovado no Conselho Nacional - o próprio Ministro já determinou, e é uma resolução - que aqueles Municípios que não se adequarem ou não se integrarem ao sistema irão ficar fora da transferência de algumas verbas. Eu vou citar aqui duas áreas, que são extremamente importantes, e este ano todos os Municípios do Brasil devem concluir os seus planos municipais: habitação e interesse social, bem como a de saneamento básico. Eu quero trabalhar um pouco com a senhora nesses dois minutos que me restam.

A conquista da sociedade que nos dá liga nesse avanço da conquista jurídica é o Estatuto da Cidade. E o Estatuto da Cidade tem um conjunto de ferramentas. Nós podemos pegar o Direito de Perempção, a questão do IPTU progressivo no tempo, a questão da implantação das Zonas Especiais de Interesse Social, no nosso caso as AEIS, que surgiram antes do Estatuto da Cidade, mas Porto Alegre resiste em implementar esses instrumentos. Nós não temos o IPTU progressivo no tempo, e a Cidade se expande para onde há os vazios urbanos, e ficam vazios urbanos nas áreas consolidadas. Nós precisamos construir equipamentos públicos, e o Direito de Perempção é uma prerrogativa do Poder Público, de gravar áreas em espaços nobres para os serviços sociais, como habitação e educação. Ainda hoje, nós temos em Porto Alegre os vazios, sejam eles de educação ou outros. Na semana passada nós debatíamos aqui, nas emendas do Orçamento, emendas que propunham criar escolas de Ensino Fundamental onde existe vazio de educação - foi um debate que se travou nesta Casa.

Também há um outro tema, que é a regularização fundiária. Nós possuímos, em Porto Alegre, em torno de setecentas vilas irregulares, muitas em processos de AEIS, mas com a indefinição de termos uma política forte, uma política que busque a regularização fundiária como uma meta de conquista à Cidade. Eu concluo dizendo que todos esses que estão em vilas irregulares, que não têm os seus endereços, não estão incluídos na urbanidade com os direitos à Cidade.

Do meu ponto de vista, se não debatermos alguns temas e não implementarmos esses instrumentos do Estatuto da Cidade, as cidades não estarão sendo cidades na sua plenitude. Muito obrigado, um grande abraço.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Sofia Cavedon): O Ver. João Antonio Dib pede dois minutos. Eu pediria licença ao conjunto dos inscritos, inclusive, porque ele está organizando uma Reunião às 15h30min, uma demanda que chegou à Presidência.

O Ver. João Antonio Dib está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. JOÃO ANTONIO DIB: Srª Presidente, Verª Sofia Cavedon; Sras Vereadoras, Srs. Vereadores, minha cara Drª Vanêsca Buzelato Prestes, eu sou um indivíduo que se coloca contrariamente ao “Direito à cidade, direito de todos - dimensão constitucional do direito à cidade”. Na verdade, o direito começa do dever, e nós só falamos em direito; quem é que tem dever para com a Cidade? Cada um dos cidadãos que pretende ter direito tem dever: ele precisa cuidar das suas árvores, da sinalização, não depositar lixo em lugar indevido, não estragar os semáforos, os telefones. Isso é dever. Nós precisamos incutir na população o dever que ela tem para com a sua cidade, e nós só ficamos falando em direitos. A Constituição é magnífica quando fala em direitos: o salário mínimo é para sustentar quatro pessoas; a Saúde é direito de todos. Mas eu não vejo acontecer isso. Então, eu acho que é chegada a hora de começar a falar nos deveres, porque nós temos muitos deveres com a nossa Cidade, nós precisamos resolver muitos problemas com a Cidade. Eu já tinha reclamado na semana passada, quando a nossa Presidente, na reunião de Mesa e Lideranças, falava sobre um documento que será publicado pela Câmara com este título: “Direito à Cidade, Direito de Todos”. Acho que temos que falar nos deveres de todos, porque, se não cumprirmos o nosso dever com a nossa cidade, ninguém assegurará direitos para todos os cidadãos. Saúde e PAZ!

 

(Não revisado pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Sofia Cavedon): Quero fazer referência à presença do Presidente da Câmara Municipal de Rio Grande: está aqui o Ver. Paulo Renato Mattos Gomes. Seja bem-vindo à nossa Cidade, Capital de todos os gaúchos! (Palmas.) O Vereador-Presidente é do PPS - pede o Ver. Toni Proença que divulguemos. Seja muito bem-vindo!

 

(Manifestação fora do microfone do Ver. Engenheiro Comassetto. Inaudível.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Sofia Cavedon): O Ver. Comassetto diz que Rio Grande é a cidade que maior número de investimentos federais está recebendo. Será um novo polo de desenvolvimento do Estado - estamos todos muito orgulhosos, é verdade -, atraindo empresas dessa área da construção de navios, e há a potencialização do pré-sal. Seja bem-vindo!

O Ver. Carlos Todeschini está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. CARLOS TODESCHINI: Srª Presidente, Verª Sofia Cavedon; Sras Vereadoras, Srs. Vereadores, nossa palestrante, Drª Vanêsca Buzelato Prestes, competente Procuradora do nosso Município, e aqueles que nos assistem: se for verdade que todos têm deveres, e o é, porque isso está garantido, é obrigado por lei, eu quero me referir àquelas obrigações que têm as autoridades, por poder delegado, e sua alçada e competência sobre as questões de Estado.

Nós, recentemente, fizemos aqui na CEDECONDH, presidida pelo Ver. Dr. Thiago Duarte, um belíssimo debate sobre a questão das catástrofes ambientais. Uma coisa que ficou constada, e é chocante, por exemplo, é que tínhamos um grupo de trabalho que cuidava das áreas de risco na Cidade, que funcionou ordinariamente, coibindo e impedindo as habitações irregulares em áreas de riscos, e isso foi solenemente desmontado nos últimos cinco anos. Não há mais nada! Há duas pessoas que fazem trabalho voluntário para tentar conter o risco. É por isso que todas as áreas de risco estão sofrendo uma ocupação violenta. Onde está a autoridade nesse caso? Porque, se é verdade que todos têm obrigação de cumprir as leis, mais as têm as autoridades que estão investidas em poderes para coerção nesses momentos em que as necessidades de ordenamento do espaço público se apresentam.

Sobre a questão da Saúde: hoje pela manhã nós estivemos - eu e o Ver. Dr. Thiago - representando a Comissão de Saúde no Hospital Conceição, junto com os administradores e com responsáveis pelos hospitais e instituições de Saúde aqui na Cidade. E uma coisa que me chamou a atenção na apresentação do Dr. Neio, que é o Superintendente do GHC, é que o aumento da incidência dos casos de câncer é mais acentuado aqui na cidade de Porto Alegre. Havia um médico ao meu lado, e eu lhe perguntei: “Por que isso estaria acontecendo?” E ele me deu a seguinte explicação: o índice de longevidade das pessoas está aumentando, portanto a incidência de câncer é maior; os maus hábitos, o estresse, a rotina, a vida na Cidade são fatores ambientais difusos, mas que atingem a todos; a questão dos hábitos alimentares, que pioram ao invés de melhorar; e a última questão me chocou muito: possivelmente, a incidência de ondas eletromagnéticas está afetando a todos, e aí, Vereadora, nós temos o celular, temos as antenas, enfim, temos todo um conjunto novo - que pode até não ser, mas também pode ser - de elementos invisíveis que afetam o meio ambiente e a vida das pessoas. Então, são questões bem significativas, e eu creio que devemos aprofundar esse importante debate trazido pela Mesa Diretora da Câmara.

De outro lado, temos a questão dos espaços públicos, os espaços de distribuição da Cidade. Tivemos um debate aqui em relação à orla, ao Pontal do Estaleiro, um plebiscito em que, sabiamente, na minha opinião, a população manifestou-se, mas esses espaços são constantemente pressionados para serem diminuídos, alterados ou superocupados, tanto com habitação como com atividades da Cidade. Enfim, há um conjunto de elementos que contaminam, que influenciam perversamente a vida na Cidade e que precisam, sim, ser aprofundados em debate.

Por último, também tenho a lamentar o desmonte que foi feito nas equipes técnicas da Procuradoria, equipes que examinavam os processos à luz da boa técnica, que foi substituída pela decisão e pela opção política das escolhas. Obrigado pela atenção.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Toni Proença): O Ver. Elói Guimarães está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Presidente, Ver. Toni Proença; Drª Vanêsca Buzelato Prestes, de quem tive a honra de ser colega e também colega de concurso para a Procuradoria aqui do Município de Porto Alegre, eu até a trataria como uma jus polis, dada a sua dedicação ao urbanismo, ao trato e ao enfoque jurídico a essa entidade que é a cidade. Tenho dito que não há espaço mais importante para o ser humano, para o cidadão, que a cidade. A cidade é berço e é túmulo, no sentido de sua dimensão social, econômica e jurídica; é onde o mundo se desenvolve, porque Município é uma conceituação territorial, mas a cidade se constrói e vai ampliando os seus espaços, e temos casos de cidades que têm exatamente a dimensão do Município. Aliás, na velha Roma, a polis era a cidade-estado. Então, veja que tema palpitante e importante que é trazido à Câmara, que tem papel relevantíssimo na concepção, diríamos assim, até modelar da cidade! Então a querida Drª Vanêsca traz um tema extremamente importante, com o conhecimento que tem da matéria.

Nós nos preocupamos com esse espaço público, que sofre os mais diferentes embates. Eu, por exemplo, defendo o direito de propriedade - quero deixar claro -, mas há uma verdade: a propriedade, pela sua arrogância, muitas vezes invade territórios e espaços sociais, o que não poderia acontecer. A cidade, que é espaço de todos, de extrema sensibilidade, é um complexo material e imaterial. Os valores imateriais que se integram no cotidiano das pessoas são direitos das pessoas; é o direito subjetivo à cidade, compatível com a dignidade humana. Todos são fatores extremamente importantes.

O Ver. João Dib trazia aqui a questão do dever. O dever está ínsito na ideia do direito, é um componente do direito. Quando se fala em direito, fala-se em sujeito, em direitos e deveres: não existe direito sem dever, ele é ínsito na sua natureza, na sua formação. Portanto, o tema é extremamente instigante, é extremamente importante.

Eu tenho, em algumas iniciativas, Drª Vanêsca, tentado defender até a imagem da Cidade, que vai se construindo e estabelece a sua imagem. Eu tenho um Projeto que torna imodificáveis determinadas áreas da Cidade, exemplificativamente, os monumentos e espaços, porque a Cidade está dentro da nossa cabeça, Ver. Pedro Ruas. Aonde formos, onde estivermos, lembramos de Porto Alegre, vem a nós a sua imagem. Então, temos que preservar essa conquista. Mas, realmente, a Cidade sofre as agressões de toda a ordem. Esta Casa, que detém o poder de legislar sobre ela, tem um papel extremamente importante. Muitas vezes não percebemos a importância que nós temos na configuração da Cidade, que pertence ao povo, é direito do povo. Então, toda vez que tocarmos nos aspectos estruturais, temos que ter absoluta cautela para não a deformar, para preservá-la, para fazer com que a Cidade seja efetivamente onde se vive, onde se cria a família, onde a sociedade se desenvolve, porque a cidade, hoje, é exatamente isso, ela se constrói diferente do Município. O Município é uma definição territorial, mas a cidade vai sendo construída e vai avançando.

Então, encerro, Presidente; mais uma vez, quero cumprimentar a Drª Vanêsca jus polis, pois é especialista lá na Procuradoria, dedicada à área da cidade, às questões ambientais e ligadas ao urbanismo. Meus cumprimentos pela sua palestra, venha mais vezes à Casa, porque esse é um tema transcendental, é um grande tema, chama a nossa atenção para a importância disso que se chama cidade, que é onde nós vivemos e onde a vida se realiza. Obrigado.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Toni Proença): O Ver. Pedro Ruas está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. PEDRO RUAS: Sr. Presidente, Ver. Toni Proença; minha cara Vanêsca Buzelato Prestes, que há algum tempo não via, já trabalhamos juntos, tenho muita alegria ao revê-la; Vereadoras, Vereadores, público que nos assiste, falo aqui em meu nome e, com muita honra, em nome da Verª Fernanda Melchionna e em nome da Bancada do PSOL. O que nos traz à tribuna a Drª Vanêsca é um outro olhar sobre o que nós temos hoje; o título, a obra é “Direito à cidade, direito de todos - dimensão constitucional do direito à cidade”. Eu acho que os enfoques anteriores foram absolutamente adequados, corretos, assinaria embaixo de todos, haveria talvez uma que outra retificação, mas eu não quero repeti-los, eu quero colocar de outra maneira. Nós temos tido dificuldades, Drª Vanêsca, em alguns aspectos que podem comprometer aquilo que, em tese - e a senhora coloca muito bem na obra e aqui na palestra -, é o direito à cidade. É um direito à cidadania que inclui todas as faces do cidadão ou da cidadã no pleno uso dos seus direitos, o que, para nós, depende muito de cobrança e fiscalização.

Sem entrar em detalhes, nós estamos ainda num debate aqui na Casa, por exemplo, sobre a CPI da Saúde, e a senhora sabe que é um debate sobre milhões de reais, valores desviados que nós queremos reaver, queremos identificar os culpados. Mas hoje há uma hipertrofia do Poder Executivo em todas as esferas. Assim como aqui o Executivo Municipal não permite uma investigação por meio de CPI, Verª Fernanda Melchionna, ali, no Piratini, no Governo Estadual, também o Executivo Estadual não permite a realização de CPI para investigar, Ver. Elói Guimarães, o caso dos “pardais”. Então, essa hipertrofia do Poder Executivo em suas diversas esferas nos deixa alarmados, porque atinge, de alguma maneira, o direito à cidadania e, na sua visão correta, do nosso ponto de vista, o direito à Cidade, porque ela não é plena para todos. A Cidade, Ver. Todeschini, é para alguns - para alguns -, assim como a Justiça é para alguns, a Saúde é para alguns, a escolaridade é para alguns. E nós temos uma situação em que quem poderia cobrar - os mandatários do povo nos Legislativos - fica amordaçado por manobras dos Executivos, vide Porto Alegre, vide Rio Grande do Sul; numa mesma linha que, para todos nós, representa o retrocesso, uma mordaça, uma dificuldade em afirmar na prática aquilo que é, sim, um direito à cidade: o transporte coletivo, a saúde, a escola pública de qualidade, o meio ambiente.

Então, são questões, Drª Vanêsca, que eu sei que a senhora conhece, V. Sª é mestre no tema, a senhora nos traz essas questões e nos possibilita reflexões, desde as nossas decepções - que não podem ser motivo para qualquer paralisação de atividades -, até mesmo novas formas de ver o mesmo problema, a partir teorizações brilhantes, como nos faz a senhora, Drª Vanêsca. Eu registro aqui o nosso contentamento por este reencontro. Em nome da Verª Fernanda Melchionna e em meu próprio nome, receba um incentivo ao seu trabalho, também um agradecimento, porque é de trabalhos como este que podem surgir ações políticas melhores, de compromissos mais elevados com a sociedade, que podem realmente fazer a diferença na vida das pessoas e no efetivo direito à cidade para todos. Obrigado.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Toni Proença): O Ver. Dr. Thiago Duarte está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. DR. THIAGO DUARTE: Ilustre Presidente, Ver. Toni Proença; ilustre convidada, eu, antes de mais nada, queria, neste Dia Internacional da Saúde, relembrar as batalhas diárias no que se refere à Saúde e, principalmente, como foi dito aqui, ao acesso à Saúde. Saúde sem acesso é não Saúde! Hoje eu queria transmitir uma congratulação muito especial aos jornalistas e aos médicos legistas, porque a ausência de saúde acaba nos médicos legistas. Então, é muito importante relembrá-los e saudá-los neste dia.

 

O Sr. Dr. Raul: Vossa Excelência permite um aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Thiago, é muito importante a sua lembrança. Nós, médicos, estamos sempre ligados, e, realmente, hoje quero mandar um abraço a todos os colegas. Quero falar que Porto Alegre hoje sancionou a lei que dá direito aos funcionários públicos municipais a utilizar o IPE, justamente no Dia Mundial da Saúde. Ontem também sancionou a lei que cria a Fundação Pública de Direito Privado, que vai ampliar a rede básica de saúde da Cidade, vai, praticamente, dobrá-la. Isso quer dizer que estamos ajudando bastante nesse trabalho.

 

O SR. DR. THIAGO DUARTE: Obrigado, Ver. Dr. Raul. Era exatamente isso que eu queria mencionar, Ver. Dr. Raul. A Prefeitura cria a possibilidade de mais profissionais serem contratados pelo Município, fugindo um pouco desta lei que amordaça, que é a Lei de Responsabilidade Fiscal, que, para a Saúde, muitas vezes, prejudica o processo. Iniciando o Instituto de Saúde da Família, tendo a possibilidade de os servidores do Município terem acesso ao IPE, certamente a gente amplia esse acesso que eu estava mencionando aqui, certamente a gente poderá construir uma Saúde muito melhor; tenho grande expectativa nesse sentido.

Como bem falou aqui o Ver. Todeschini, discutimos, lá no Hospital Conceição, a questão das Emergências e Urgências, que é um sintoma e tem tudo a ver com a Cidade. O problema não são as Urgências e Emergências; o problema é o entorno desse processo. Tem que se dar mais acesso ao Sistema de Saúde, para que as pessoas possam se tratar precocemente próximo da sua residência; tem que se dar resolubilidade aos profissionais de Saúde. E, mais uma vez, vou reiterar aquela afirmação que a gente tem costumeiramente feito aqui: o problema, no que tange à Saúde, não está nos profissionais de Saúde; o problema da Saúde começa ser resolvido a partir do entendimento de que os profissionais são o principal arcabouço para que isso possa se resolver.

A Comissão de Saúde e Meio Ambiente, neste ano, tem se pautado por assuntos fortemente vinculados à Cidade. Conversamos já sobre o transporte hidroviário, tivemos a primeira viagem experimental ligando o Cais do Porto ao Lami, mostrando a viabilidade desse transporte e, até parafraseando, dizendo que o metrô pode e deve ligar a Zona Norte, e esse novo modal pode ligar o Centro à Zona Sul da Cidade. Conversamos já sobre os desastres ambientais e áreas de risco, trazendo aqui a experiência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, muito rica nesse processo, que pode, concatenada com os outros atores, realmente ser muito importante nesse novo processo, nesse novo mundo em que estamos vivendo. Conversamos exaustivamente sobre pichações numa Sessão - concluo minha fala -, conversamos sobre monumentos, conversamos sobre as praças, e é importante que o público que nos ouve e os demais Vereadores, dentro das suas possibilidades, possam participar junto conosco, para que possamos construir alternativas para esse processo. É fundamental que possamos devolver à comunidade as áreas de convivência que nela existem. É fundamental que façamos isso! E, para que o cidadão possa se apropriar novamente dos espaços públicos, é muito importante que o Estado se faça presente, para que possamos mudar este paradigma. Obrigado.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Toni Proença): O Ver. Airto Ferronato está com a palavra para uma Comunicação de Líder.

 

O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras Vereadoras, nossa estimada amiga Drª Vanêsca Prestes, tenho conhecimento do seu trabalho há bastante tempo e sou sabedor da competência com que V. Sª trata as coisas da cidade, muito especialmente da nossa querida Porto Alegre.

Eu solicitei este tempo de Liderança, que vem num momento bastante interessante, em primeiro lugar, pela presença e pela exposição da Drª Vanêsca; em segundo, porque me precederam os nossos Vereadores médicos, o Dr. Thiago e Dr. Raul. Eu recebi, e estão conosco no plenário, a Direção do nosso Saerme, um centro de atendimento à saúde mental da criança, uma instituição que se dedica ao atendimento de crianças especiais, autistas em sua maioria, sito na Rua Marcílio Dias, 825, no bairro Menino Deus. A entidade foi fundada em 1969 - lá se vão diversas décadas - e, desde 1971, atende em regime de hospital/dia crianças na faixa etária de três a doze anos incompletos, em parceria com o Ministério da Saúde, através de credencial com o Sistema Único de Saúde, o SUS.

No sábado e domingo passados, tivemos, na nossa Cidade, diversos eventos que registraram o Dia Mundial do Autista. E aqui estão presentes as mães dos meninos e das meninas que são atendidos nesse hospital/dia. Numa correspondência enviada à Direção do Saerme, ao Sr. Adimiro Sari, que está aqui presente, foi solicitado que, a partir de 1º de março de 2011, o hospital passasse a encaminhar os pacientes atendidos nessa instituição para o Santa Marta, e foi conseguido um prazo de sessenta dias para essa transferência de atendimento. Acontece que algumas mães já estiveram no Santa Marta, e o pessoal de lá sequer sabe do que se trata, meu caro Presidente e ilustres Vereadores. Nem sabem do que se trata!

Existe um abaixo-assinado com mais de mil e cem assinaturas de porto-alegrenses, que pedem a retomada do processo no Saerme. Eu estou aqui pedindo que todos nós, Vereadores, façamos um esforço para conseguir a reversão desse quadro, para que essa instituição de Porto Alegre, que atende crianças com deficiências especiais, retome... Ou melhor, pedimos que não seja concluída a negociação e que essa instituição continue a funcionar. Eu disse para as mães presentes que eu viria a esta tribuna. As mães estão aqui, e eu não acredito, meu caro Ver. Marcello Chiodo, que as mães estariam aqui querendo a continuação desse atendimento se o atendimento fosse ruim e se elas não estivessem satisfeitas com esse atendimento. Por isso é uma tarefa de todos nós, meu caro Presidente. Vamos nos incluir nessa empreitada e vamos ver de que maneira conquistamos a continuação desse serviço aqui na Cidade. Um abraço a todos. Obrigado.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Toni Proença): Ver. Ferronato, recomendo que o senhor encaminhe esse assunto à Comissão de Saúde e Meio Ambiente, para que a gente possa chamar aqui as autoridades responsáveis nesse processo.

O Ver. Dr. Raul Torelly está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. DR. RAUL TORELLY: Ver. Toni Proença, na presidência dos trabalhos; saúdo a nossa visitante, a Drª Vanêsca, que fez uma excelente apresentação aqui, como é de seu hábito. Também vou me referir inicialmente à questão do Saerme, não dizendo que estou me incluindo nesse processo, porque, na realidade, eu já estou incluído há mais de três anos. Eu tenho acompanhado a questão do Saerme e tenho procurado levar essa luta em frente, na condição de Vereador, junto com outros colegas; inclusive, justiça se faça, o então Ver. Claudio Sebenelo foi quem me apresentou o Dr. Adimiro, aqui presente. E a gente tem participado de outras reuniões; com o Ver. Mauro Zacher, do PDT, estivemos com o Secretário da Saúde, enfim, e o Ver. Dr. Thiago, Presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente desta da Casa.

 

O Sr. Dr. Thiago Duarte: Vossa Excelência permite um aparte? (Assentimento do orador.) Obrigado, Ver. Dr. Raul, pelo aparte. Nesta mesma sintonia de V. Exª, quero dizer que a Comissão da Saúde e Meio Ambiente está aberta e disposta a fazer alguma reunião ordinária ou extraordinária para mediar essa situação tão importante para essas crianças. Obrigado.

 

O SR. DR. RAUL TORELLY: Eu é que agradeço, Dr. Thiago. Quero dizer que também já tive a oportunidade de visitar a instituição e ver o belo trabalho que é feito lá, o tipo de atendimento, e as crianças que lá são atendidas, as quais têm, realmente, muita dificuldade. Então, com certeza, nós vamos reforçar esse exército que está começando a se formar, para que possamos tentar, de uma maneira mais ampla, resolver eficazmente a situação do Saerme. Sabemos que é uma situação difícil, conhecemos todo o processo, sabemos das formas com que vem sendo levado, mas acredito que juridicamente é possível resolver, e a Câmara não vai se furtar de estar presente na discussão para tentar reverter essa situação do Saerme, que sofre, na realidade, o risco de finalizar o seu atendimento com a quebra desse convênio. Nós precisamos manter os bons parceiros do Município, e o Saerme tem se mostrado, há quarenta anos - o Dr. Adimiro me sinaliza -, uma excelente parceira no atendimento a essas crianças.

Em relação à questão das cidades, eu queria, também, deixar uma mensagem. Ontem, por exemplo, conversando com o Secretário Busatto, referíamos ao Congresso da Cidade e à necessidade da interação com a Internet, de que o cidadão e a cidadã acessem o site Porto Alegre CC, aonde vai se fazer essa integração, que já está sendo feita. Há duas semanas é feita, cada cidadão pode criar uma causa específica e, dentro das redes sociais, interagir com toda a cidadania, fazendo com que adeptos de suas causas venham a influenciar as causas maiores da Cidade, tornando-se, na realidade, porta-vozes de assuntos, de demandas e - por que não? - de decisões importantes que passem a ser executadas pelo nosso Poder Executivo, que, na realidade, nada mais deve fazer do que levar a cidade em frente, levar o que o cidadão e a cidadão querem de melhor para sua cidade. Muitas vezes, não conseguimos identificar com clareza total os assuntos, mas nós temos exemplos muito importantes que estão nos dando uma aula de cidadania. No caso do infeliz incidente que houve com os ciclistas, o movimento Massa Crítica esteve, com duas mil pessoas de bicicleta, em frente à Prefeitura - não é uma coisa governamental, partidária -, simplesmente ali estavam pessoas indignadas, pessoas que querem andar de bicicleta, que é o mais justo e é o melhor para uma Cidade. Se quisermos utilizar, por exemplo, outros modais que não seja o trânsito pesado que nós temos, o uso da bicicleta é fundamental. Estou apresentando isso como uma causa importante a ser tocada e defendida na nossa Porto Alegre.

Eu gostaria de desejar saúde para todos e muito especialmente ao Saerme; vamos continuar nessa luta, vamos ver se conseguimos chegar lá. O nosso esforço não faltou até hoje e, com certeza, não será desta vez que vai faltar. Saúde para todos. Obrigado

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Toni Proença): A Srª Vanêsca Buzelato Prestes está com a palavra para as considerações finais.

 

A SRA. VANÊSCA BUZELATO PRESTES: Queria dizer aos Srs. Vereadores que, evidentemente, todas as colocações trazidas dialogam com o conteúdo que foi aqui colocado. Então, eu tenho que fazer uma seleção dos comentários aqui, do diálogo, porque eles foram extremamente profundos, eles envolvem uma série de questões. Da fala dos senhores, eu pincei alguns pontos que me pareceram mais importantes para dialogar sobre a dimensão jurídica aqui colocada.

Ao Ver. Comassetto, que tem uma trajetória brilhante nessa área, a qual eu já conheço há muito tempo, quero dizer que, de fato, a gente está num estado cooperativo que não cabe a simples determinação, mas esse estado cooperativo tem mecanismos de retroalimentação. Na hipótese das transferências de recursos que não são os obrigatórios, os constitucionalmente previstos, tem sido uma prática interessante, em alguns Estados, a suspensão ou o incentivo desses recursos para adoção de políticas públicas. Por exemplo, o ICMS ecológico tem proporcionado boas experiências no Estado de Minas Gerais, no Estado de Paraná, que deixam de passar uma parte do ICMS que não é a transferência compulsória para os Municípios; eles adotam esse modelo. Parece-me que é uma fórmula inteligente de fazer com que haja o envolvimento juridicamente adequado.

Agora, a contrario sensu a muitas práticas. A ideia de Federação pressupõe autonomia de competências e autonomia entre os entes federados. Em muitos momentos, nós tivemos que afirmar a nossa autonomia como Municípios. Eu recordo muito bem, há tempos, em que nós tivemos que ajuizar ação contra a União; a Procuradoria ajuizou ação contra a União, porque queriam cobrar o IOF dos Municípios, quando temos imunidade. Aconteceu, de novo, no momento da CPMF. Então, são vários momentos em que a gente tem que afirmar competência, mas separando. Em tempos recentes tivemos o problema do Cadin, quer dizer, estar no Cadin não implica... As transferências constitucionalmente estabelecidas já são recursos que, por natureza, são dos Municípios, e não cabe a retenção. Diferente das transferências voluntárias.

Ainda, de fato, o Estatuto da Cidade é um conjunto de ferramentas, e falta muita aplicação nos Municípios brasileiros e no nosso também. Não só de vazios urbanos, mas na utilização de prédios. Nós temos a utilização compulsória e ainda não fizemos a identificação. Quando os senhores aprovaram a lei municipal que dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida, nessa lei já havia determinação de que fosse feito o estudo das áreas e dos imóveis vazios para que eles fossem identificados e inseridos dentro das possibilidades do Programa Minha Casa, Minha Vida. Na época, eu participava do Grupo de Trabalho do Município. É uma questão que acaba passando ao largo e que me parece extremamente relevante.

A regularização fundiária é um dos temas muito caros para a Procuradoria-Geral do Município. Em 1996, esta Casa aprovou a competência da Procuradoria para o ajuizamento das ações de usucapião. Desde lá, nós vimos trabalhando nesse tipo de ação, depois aplicamos mora ilegal e agora estamos discutindo a demarcação urbanística, que foi introduzida como instrumento jurídico para agilizar os processos de regularização fundiária na lei do Programa Minha Casa, Minha Vida. Todavia, há uma série de dificuldades de aplicação no âmbito interno, é um daqueles programas horizontais. Agora, isso nos deixa claro que eles têm que ser tratados pelas carreiras permanentes da Administração Pública, pelas carreiras de Estado permanentes da Administração Pública, que não saem a cada gestão, as pessoas permanecem. Por quê? Porque são processos muito longos, que não terminam em uma gestão, que demoram. Há processos lá que - faz parte do procedimento - demoram dez, quinze anos. Então, não podem estar sujeitos, como em outras áreas, à troca de Governo e à troca da prioridade, como é possível em outras áreas. Essa área, parece-nos, é aquela que tem de estar afeita às carreiras de Estado, justamente para que os senhores, a população possam cobrar, na continuidade, essas matérias.

O Ver. Dib traz uma matéria que é inerente à noção de direitos fundamentais. Claro que numa fala rápida a gente não tem condições de colocar tudo, mas pari passu, como bem colocou o Ver. Elói, no direito há dimensão de dever: dever de informação, dever de solidariedade. E isso precisa ser, realmente, resgatado, porque estamos naquela geração de direitos que não é eu contra o Estado - como estava naquela lâmina -, mas nós em favor do planeta, o que implica em os particulares também se engajarem nesse conteúdo. E nós, na Procuradoria, depois, temos de fazer a cobrança, por exemplo, das calçadas, da retirada de painéis, essas questões que impedem a acessibilidade e por aí vai.

O Ver. Todeschini resgata a importância dos espaços públicos como de distribuição da cidade, como inerentes ao direito à cidade. Esse é um dos pontos extremamente importantes. Quais espaços públicos? Como se constrói essa cidade? No planejamento - e o Plano Diretor é um dos instrumentos para isto - nós temos como definir esse zoneamento de áreas. O que faremos com os nossos espaços públicos? É possível fechar? É possível regrar? Os condomínios não têm que destinar área pública? Como fica essa relação? Nós estamos num momento em que os arrabaldes da Cidade estão sofrendo um processo intenso de urbanização na contramão do que muito se tem discutido no mundo, o que implica em mais trânsito, em mais circulação. Para onde nós vamos? É uma pergunta que agrega essa reflexão que foi aqui feita.

Com relação às áreas de riscos: o mapeamento das áreas de risco, parece-me, não é só o que temos até então. Precisam ser regatados os estudos do que existe, mas também temos que fazer uma prospecção, porque os fenômenos climáticos estão nos dando conta de que fenômenos que nós não conhecíamos hoje estão ocorrendo.

O Ver. Elói, colega Procurador, na sua fala, diz que a cidade é o único ente da Federação que não é uma ficção jurídica, por isso é um espaço de democracia, é um espaço de convivência, em que precisamos resgatar esses elos-cidadãos que estão dentro do conceito democrático. E outro ponto da sua fala que me parece extremamente importante e que é pouco desenvolvido na nossa Cidade diz respeito ao patrimônio imaterial, que a Constituição, no seu art. 216, também traduz. Quando a gente fala de proteção ao patrimônio, o que vem na imagem usual é a proteção do patrimônio material stricto sensu, o bem tombado, a casa, o edifício; só que a nossa Constituição trouxe uma série de outros elementos, que é o conceito de patrimônio imaterial, que é a cultura local, que são as ambiências urbanas, que são os espaços protegidos. Nós temos o exemplo das paneleiras do Espírito Santo: houve o zoneamento da área de onde elas colhem o barro para fazer as panelas que nós trazemos quando lá visitamos, há exemplo que vem de Salvador, com relação à sua atividade cultural, mas nós aqui ainda temos um pouco de dificuldade de aplicar esses instrumentos. Começamos nas Áreas de Interesse Cultural, tivemos, juridicamente, muitas vitórias, mas pouca compreensão. Precisamos aprofundar. Direito à paisagem é hoje uma questão que está muito apropriada no Brasil, e o STJ tem reconhecido uma discussão importantíssima exatamente para essa ideia intergeracional que está colocada na Cidade.

O Ver. Pedro Ruas, em toda sua fala, traz elementos integradores do direito à Cidade, elementos que integram esse conteúdo de direito à Cidade. E, sem entrar no mérito das questões colocadas, eu gostaria de destacar que a estruturação do serviço público com carreiras permanentes é fundamental para que essas matérias perpetuem, permaneçam, independentemente daqueles que estão na gestão em determinados momentos. Nós temos tarefas permanentes da Administração Pública, e essas inerentes ao direito à Cidade são as que essencialmente representam esse conteúdo.

O Ver. Thiago trabalha bastante o conteúdo de devolver as áreas de convivência à Cidade. Isso não é uma realidade só de Porto Alegre, todos os estudos sociológicos dão conta de que a gente foi se afastando da ideia de ágora, da praça, por segurança, pela questão do individualismo, mas hoje a pós-modernidade, com a necessidade de quebra de fragmentação, faz com que nós tenhamos que recuperar esses espaços de convivência. Então, é uma lição que tem sido aprendida por muitos, e Porto Alegre ainda traduz, em muitos desses passos, a pluralidade. Acho que cabe manter, aprofundar, ampliar e resgatar muito esses elementos trazidos tanto pelo Ver. Dr. Thiago como pelos Vereadores Dr. Raul e Airto Ferronato.

Sem me estender, eu queria agradecer bastante pela oportunidade, que não é para a Procuradora Vanêsca, mas para a Escola de Direito Municipal, que tem em seu conteúdo... Nós estamos completando, neste ano de 2011, quinze anos de atuação, cuja trajetória demonstra a afirmação deste direito todo aqui. Nós começamos a ser desafiados pelos Srs. Vereadores já naquela época de implantação, de afirmação da Lei Orgânica, quando tivemos que nos debruçar sobre tudo isso. Eu vi os senhores aqui discutindo a questão da Saúde, eu lembro muito bem quando tivemos que criar uma equipe de saúde na Procuradoria, porque não dávamos mais conta das demandas. Tivemos que reaprender uma série de conteúdos pautados por esta Casa, para sustentar, inclusive, o que esta Casa vinha aprendendo. Tivemos que incorporar à nossa dimensão vários dos aprendizados dos conteúdos aqui colocados, e a Escola vem cumprindo esse papel. Nós temos Especialização em Direito Municipal, foi a primeira do Brasil aprovada. A nossa primeira edição foi feita em parceria com a Universidade Ritter dos Reis, a segunda e a terceira com a UFRGS, e agora já temos um curso que foi autorizado para funcionar com um programa diretamente vinculado. E ele se presta, exatamente, para aprofundar esses conteúdos que estão aqui colocados e traduzidos pelas políticas públicas no âmbito da municipalidade, para sustentação e aplicação dessas políticas públicas. Então, por tudo que eu ouvi dos senhores aqui, pelos desafios propostos, eu agradeço imensamente em nome da Escola de Direito Municipal, que tem na sua trajetória esse compromisso com a aplicação das políticas públicas municipais. Muito obrigada. Estamos sempre à disposição desta Casa, para o que necessitar.

 

(Não revisado pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Toni Proença): Queremos, em nome da Câmara Municipal de Porto Alegre, agradecer muito à Drª Vanêsca Buzelato Prestes, que nos iluminou e nos ajudou a refletir sobre o tema “Direito à cidade, direito de todos”, que traz aqui, como ela mesma afirmou, a manifestação da Escola de Direito Municipal, mas aproveitando o talento e o conteúdo que a Procuradora Vanêsca acumulou no estudo dessa matéria. Quero agradecer também à Débora, da Escola Legislativa. Estão suspensos os trabalhos para as despedidas.

 

(Suspendem-se os trabalhos às 16h08min.)

 

O SR. PRESIDENTE (Toni Proença – às 16h09min): Estão reabertos os trabalhos.

Em votação Requerimento de autoria desta Presidência, que solicita a inversão da ordem dos trabalhos, para que possamos imediatamente entrar no período de Pauta; após, retornamos à ordem normal. Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

Passamos à

 

PAUTA - DISCUSSÃO PRELIMINAR

 

(05 oradores/05 minutos/com aparte)

 

1ª SESSÃO

 

PROC. Nº 0843/11 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 022/11, de autoria do Ver. Nelcir Tessaro, que assegura o direito à concessão de uso especial para fins de moradia de forma gratuita aos ocupantes da área conhecida como Vila Dique removidos em decorrência de interesse público.

 

PROC. Nº 1188/11 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 033/11, de autoria do Ver. João Carlos Nedel, que denomina Rua Porto Feliz o logradouro público cadastrado conhecido como Rua 1052 – Loteamento Voluntários da Pátria –, localizado no Bairro Marcílio Dias.

 

2ª SESSÃO

 

PROC. Nº 0764/11 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 018/11, de autoria do Ver. Aldacir José Oliboni, que estabelece medidas preventivas e orientadoras destinadas a inibir qualquer forma de violência contra professores da Rede Municipal de Ensino.

 

PROC. Nº 1045/11 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 028/11, de autoria do Ver. João Carlos Nedel, que denomina Rua Antônio Barata o logradouro público cadastrado conhecido como Beco Otaviano Pinto.

 

PROC. Nº 1081/11 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 030/11, de autoria do Ver. João Carlos Nedel, que denomina Rua Mauro Guedes de Oliveira o logradouro público cadastrado conhecido como Rua Mil Quinhentos e Um, localizado no Bairro Jardim Lindoia.

 

O SR. PRESIDENTE (Toni Proença): O Ver. João Antonio Dib está com a palavra para uma Comunicação de Líder.

 

O SR. JOÃO ANTONIO DIB: Sr. Presidente, Ver. Toni Proença; Srs. Vereadores, meus senhores e minhas senhoras, a data de amanhã é uma data muito significativa para mim e significativa para a Cidade também.

No dia 8 de abril de 1975, o jovem economista Guilherme Socias Vilella assumia a Prefeitura de Porto Alegre, substituindo outro extraordinário Prefeito, Telmo Thompson Flores, que deixava a Prefeitura depois de seis anos, três meses e uma semana, engrandecendo esta Cidade. Vilella, ao longo de oito anos, trabalhou incessantemente e construiu maravilhas nesta Cidade: fez os corredores de ônibus, abriu a 1ª e a 3ª Perimetral, ampliou a capacidade de tratamento das nossas hidráulicas, construiu parques, construiu radiais, como a Av. Érico Veríssimo e a Av. Aureliano de Figueiredo Pinto, e a Rua Vasco da Gama, construiu imensas obras. Ficou exatamente oito anos. E, no dia 8 de abril de 1983, uma sexta-feira, como amanhã, este Vereador assumia a Prefeitura de Porto Alegre, onde - o Ver. Brasinha gosta de dizer - permaneceu durante 999 dias.

Quero dizer que Porto Alegre teve três extraordinários Prefeitos. O número um é, sem dúvida nenhuma, José Loureiro da Silva; depois, vêm Thompson Flores e Guilherme Socias Villela. Os três têm uma identidade, ou mais de uma até: os três gostavam de obras e realizaram grandes obras nesta Cidade, mas os três eram ambientalistas. Loureiro da Silva foi ambientalista; quando ninguém nesta Cidade, neste Estado, neste País falava em meio ambiente, ele comprou os 1.300 hectares do Parque Saint-Hilaire; ele impediu que a universidade avançasse sobre o Parque Farroupilha e levou-a a instalar, como ela fez depois, o seu campus lá na Agronomia - assim indicava Loureiro da Silva -; comprou a área onde hoje está o Jardim Botânico e disse que o Hipódromo deveria ser transformado no Parcão, e ele é hoje o Parcão. Thompson Flores fez a Reserva do Lami; Villela aumentou a Reserva do Lami. Thompson Flores ainda criou o Centro Agrícola Administrativo, mas Villela fez o Parque Marinha do Brasil, o Parque da Harmonia, hoje Parque Mauricio Sirotsky Sobrinho; fez o Parque 20 de Maio, o Parque Mascarenhas de Moraes, fez praças nesta Cidade, plantou árvores.

Agora, depois de 1999, eu não posso dizer a mesma coisa, não posso dizer que os Prefeitos foram ambientalistas, durante os 16 anos: extinguiram a área rural, terminaram com 22 árvores que estavam ali na Rua Vasco da Gama para vender um terreno da Prefeitura, sem compensação; deixaram cortar 150 árvores da Rua da Correa Lima, sem compensação; permitiram, por Decreto do Prefeito, o corte de figueiras, o que era proibido - sem compensação. Então, eu fico com os três Prefeitos que foram realmente ambientalistas, muito antes de muita gente que hoje grita pelo meio ambiente.

Portanto, eu quero saudar o Prefeito Guilherme Socias Villela, porque amanhã estaria comemorando 36 anos que ele assumiu a Prefeitura. Hoje nós fizemos um almoço, em que os meus ex-Secretários e os dele - alguns foram de nós dois - comemoramos essa data; casualmente, numa sexta-feira, Villela deixou a Prefeitura e este Vereador a assumiu. Posso dizer que os três Prefeitos que eu citei marcaram profundamente a história da nossa Cidade. Precisamos de pessoas iguais a eles, que realizem e que cuidem do meio ambiente, plantando árvores como eles fizeram. Saúde e PAZ!

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Toni Proença): O Ver. Carlos Todeschini está com a palavra para uma Comunicação de Líder, pela oposição.

 

O SR. CARLOS TODESCHINI: Sr. Presidente, Ver. Toni Proença; Sras Vereadoras e Srs. Vereadores, eu não poderia deixar de vir aqui fazer um registro lamentando o acontecimento de hoje no Rio de Janeiro, porque é abominável. E é bom lembrar que aqui nesta Casa, assim como em outras Casas do País, houve um plebiscito sobre a questão do desarmamento. E eu lembro muito bem das vozes que vinham aqui e acusavam, e esbravejavam, diziam que aqueles que eram a favor do desarmamento queriam armar os bandidos e desarmar o povo. Pois bem, aí está o resultado do não desarmamento. Essa é uma situação típica resultante de uma mente doentia, mas também porque possibilitarmos que armas fiquem disponíveis nas mãos de gente que não pode e não deve ter direito ao acesso às armas.

Nós sabemos que a maior parte das armas entram por contrabando, ou são roubadas e vendidas, inclusive por agentes das Forças Armadas, o que é muito, muito lamentável, Ver. João Antonio Dib. Agora, nós temos que nos deparar com esse episódio; inclusive, está havendo uma superexploração midiática, mas é um fenômeno a lamentar: assassinato de nove meninas e um menino, mais dezoito feridos em estado grave ou gravíssimo. E isso tem responsabilidade: a escolha que se fez, quando se fez uma discussão de caráter neofascista neste Brasil, querendo imputar responsabilidade, valores, ideias, afirmando que aqueles que defendiam o desarmamento queriam armar os bandidos, defendiam os bandidos, é a isso que leva.

Eu quero dizer que tive uma posição muito clara e fui derrotado. O João Hélbio, que estava aqui pelo Conselho de Segurança, recomendava... E teve parceiros, sim: a Igreja, as Pastorais e muitos militantes. Nós tivemos apenas 17% de opinião favorável à nossa ideia, algo muito lamentável. Lamentei muito essa posição. Inclusive, logo após esse episódio, estive num evento nas Filipinas e lá encontrei um professor universitário muito jovem ainda, de Amsterdã - a origem dele era de El Salvador -, ele dizia: “A esperança que nós tínhamos também para acabar com a violência em El Salvador era de que o Brasil, como um país importante, tivesse uma lei que pudesse promover o desarmamento no País”. Não; ao contrário, o País reforçou essa ideia do armamento, que é um pressuposto para a violência. E lá ele me dizia: “Lá em El Salvador é permitido que as pessoas tenham duas armas, inclusive um fuzil capaz de matar um elefante”. Dimensionava a capacidade e a potência dessas armas.

Agora, nós temos que nos deparar com isto, Ver. João Dib, e é uma das coisas mais lamentáveis que nós temos, só acontece em função de haver armas disponíveis na mão de pessoas que não têm condições nem emocionais, nem psicológicas, nem de outra natureza para ter isso na mão - instrumentos da morte.

Inclusive, para nós, que estamos assistindo pela SBT à novela das 22h, é bom que se recapitule tudo o que aconteceu de violência, de usurpação de direitos, de assassinatos, tudo aquilo que o País quer ver passado a limpo. É de arrepiar, não é, Doutora? É de arrepiar! Confesso que derramei lágrimas também, coloquei-me no lugar daqueles que estavam fugindo, que estavam sendo torturados, daqueles que usurparam essas liberdades. Portanto, são episódios de mesma natureza, que têm, na violência, na violação dos direitos, no autoritarismo, o pressuposto da ação. Esperamos que isso sirva para que o Brasil reabra o diálogo do desarmamento, porque não vamos diminuir a violência se isso não acontecer. Hoje pela manhã debatíamos lá no Hospital Conceição, e conclui-se que a maior causa de mortes que temos é por projétil, bala perdida ou bala acertada em alguém, é a violência disseminada na sociedade. Muito obrigado.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. HAROLDO DE SOUZA (Requerimento): Sr. Presidente, solicito verificação de quórum.

O SR. PRESIDENTE (Toni Proença): Solicito abertura do painel eletrônico para verificação de quórum, solicitada pelo Ver. Haroldo de Souza. (Pausa.) (Após apuração nominal.) Há oito Vereadores presentes. Não há quórum.

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h23min.)

 

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